Vulcões falam de ruína e renascimento. As camadas de cidades daquela lenda ou da vida real se sobrepõem, como lava: a cada ciclo queimam, apagam e depois solidificam outro chão. Sua erupção não destrói apenas, mas fertiliza. A lava, que desce como o fluxo de um rio, traz nutrientes das profundezas da terra. Esse ciclo de destruição e reconstrução é o mesmo que, em outra escala, transforma uma memória dolorosa na matéria-prima de uma nova narrativa. E a figura do vulcão se tornou essa conexão entre dois universos, a Guatemala e o Japão. 
Em comum, a forte presença de vulcões na paisagem. Vulcão Acatenango, na Guatemala e o Monte Fuji retratado por Katsushika Hokusai, como parte de sua série de xilogravuras datada de c. 1830 a 1832. O caminho da lava não parece uma raiz? 
O Popol Vuh, o livro sagrado dos maias, descreve a descida ao submundo como um caminho cheio de provas. Para chegar, é preciso descer por escadas íngremes, atravessar rios caudalosos de sangue e de água, matas de espinhos. Esse percurso significa adquirir conhecimento - ao contrário dos cristãos, para os maias o sagrado está no interior da terra, onde nasce a vida. Diz-se que os sacerdotes chegavam a ele por meio de rios, olhos d’água, cavernas subterrâneas e vulcões. 
Resgatar ou se deparar com memórias e sua própria história tem algo desse percurso. Não é fácil se deparar com certos lugares do passado destruídos, e nem intactos; todos sabemos. A nostalgia é agridoce. Mas mesmo voltar a recordações difíceis nos dizem: eu vivi. E voltamos para o hoje um pouco mais firmes, um pouco mais férteis.