Série: “Se o inverno está chegando, a primavera não está distante”, 2024
aquarela sobre papel canson 200 g/m2
15 x 21 cm
“Não há lua, e a primavera não é a mesma do passado; só o meu corpo é o mesmo” - Ariwarano Narihira - de quando o poeta visita a antiga residência da namorada, que não mais se encontrava nesse lugar. A ausência da protagonista acaba por mudar tanto a lua como a primavera de um lugar; seu corpo é o mesmo, mas o ambiente, ou seja o mundo, muda e essa mudança é irreversível. [em “Tempo e Espaço na cultura japonesa”, Shuichi Kato, Editora Liberdade]
“There is no moon, and spring is not the same as in the past; only my body is the same”​​​​​​​ - Ariwarano Narihira from when the poet visits his girlfriend's old residence, who was no longer in that place. The protagonist's absence ends up changing both the moon and the spring of a place; her body is the same, but the environment, or be it the world, it changes and this change is irreversible [in “Time and Space in Japanese culture”, Shuichi Kato, Editora Liberdade]
Fagulha
Ana Cristina C
Abri curiosa⁠
o céu.⁠
Assim, afastando de leve as cortinas.⁠

Eu queria entrar,⁠
coração ante coração,⁠
inteiriça⁠
ou pelo menos mover-me um pouco,⁠
com aquela parcimônia que caracterizava⁠
as agitações me chamando⁠

Eu queria até mesmo⁠
saber ver,⁠
e num movimento redondo⁠
como as ondas⁠
que me circundavam, invisíveis,⁠
abraçar com as retinas⁠
cada pedacinho de matéria viva.⁠
Eu queria⁠
(só)⁠
perceber o invislumbrável⁠
no levíssimo que sobrevoava.⁠

Eu queria⁠
apanhar uma braçada⁠
do infinito em luz que a mim se misturava.⁠

Eu queria⁠
captar o impercebido⁠
nos momentos mínimos do espaço⁠
nu e cheio⁠

Eu queria⁠
ao menos manter descerradas as cortinas⁠
na impossibilidade de tangê-las⁠

Eu não sabia⁠
que virar pelo avesso⁠
era uma experiência mortal.
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